O sonho da termoelétrica começa a ganhar contornos de realidade

Talvez, para quem ouviu a conversa travada entre o presidente do Grupo Creluz, Elemar Battisti, e o prefeito de Seberi, Marcelino Galvão Bueno, há cerca de 5 anos, quando o Consórcio Intermunicipal de Resíduos Sólidos (CIGRES) foi inaugurado, poderia estranhar o teor do assunto. Battisti falava do que havia presenciado na Europa, em países como a Alemanha, Dinamarca e Inglaterra, onde a destinação do lixo não passível de reciclagem já eram as caldeiras de usinas termoelétricas, aliando a resolução do problema da destinação final dos resíduos com a virtude da geração de energia elétrica e, o mais interessante de tudo, com total responsabilidade social e ambiental.

 Cinco anos se passaram desde então e muita coisa mudou. O CIGRES hoje é considerado um exemplo para o país, alcançando índices próximos dos 80% de reaproveitamento do material recebido diariamente de 28 municípios. A visitação por equipes técnicas ligadas a instâncias governamentais, universidades e grupos de pesquisa tem sido uma constante. A região hoje também já se encontra familiarizada com os desafios que se descortinaram a partir destes bons resultados, a exemplo da destinação final dos resíduos que não podem ser reaproveitados pela reciclagem nem dispostos nos pátios de compostagem, sendo hoje destinados a um aterro sanitário.
- O aterro é o nosso gargalo, é o grande problema presente e futuro que temos para resolver -, explica o presidente do consórcio, o prefeito de Seberi Marcelino Galvão, concordando com o engenheiro Artur Geller, que responde pela administração da estrutura. “Estamos perto de completar a primeira célula do aterro, o que deve ocorrer nos próximos meses, restando ainda capacidade para mais duas células semelhantes, o que limitaria a vida útil de nossa estrutura a cerca de 15 anos nos índices atuais de recebimento de resíduos”, esclareceu Geller.
  
Andamento do projeto
 
 Desafiados pela busca de soluções, o grupo de trabalho que envolve além do próprio CIGRES, a Associação dos Municípios da Zona da Produção (AMZOP), o Grupo Creluz e a Eletrosul, tem intensificado os trabalhos em busca de alternativas viáveis, baseadas em princípios de responsabilidade social e ambiental. A ideia do presidente da Creluz, espelhado pelas inciativas de sucesso que testemunhou na Europa, propondo a instalação de uma usina termoelétrica para a incineração dos resíduos não reaproveitáveis e a geração de energia elétrica como subproduto, ganhou força após a apresentação de estudos prévios realizados pelos técnicos da Eletrosul.  A viabilidade técnica e operacional do sistema já está comprovada, a tecnologia necessária está disponível no país e os desafios a serem enfrentados pelos municípios que integram o consórcio na ordem administrativa também já foram expostos em uma audiência pública realizada em Seberi no início do ano.
 Enquanto a Eletrosul prepara os últimos detalhes para emitir o edital de licitação para a contratação de uma empresa que será responsável por elaborar o projeto e o estudo final de viabilidade, um grupo de trabalho formado por representantes das outras três instituições parceiras partiu na última segunda-feira para um roteiro de visitação a projetos já existentes em operação no Rio de Janeiro e em Minas Gerais, agregando conhecimento ao debate proposto junto à Eletrosul.
 - Nossa intenção com estas visitas é complementar o trabalho produzido pela Eletrosul, agregar mais experiência, mais informações que possam contribuir com o interesse regional -, frisou Battisti. A opinião é compartilhada pelo presidente da AMZOP: “Os resultados da viagem foram extremamente positivos, voltamos com ideias claras, certos de que o processo é viável, já está sendo executado em outros moldes que podem ser inclusive aperfeiçoados na nossa região”, destacou o prefeito de Taquaruçu, Mauro Sponchiado.  
 
 Usina Verde (RJ)
 
 Na primeira etapa do roteiro, o grupo visitou a sede da Usina Verde, cuja estrutura está localizada na Ilha do Fundão, na capital carioca. O projeto, que já foi apresentado com exclusividade aos leitores do jornal Folha do noroeste no início de 2010, foi desenvolvido através de um grupo de investidores privados, buscando viabilizar um processo de tratamento térmico e geração de energia a partir dos resíduos urbanos não recicláveis. No protótipo instalado no Rio de Janeiro são tratadas 30 toneladas diárias de resíduos, submetendo ao tratamento térmico (incineração) a matéria orgânica e os resíduos combustíveis não recicláveis, ou seja, exatamente o material que seria destinado ao aterro. O grupo responsável pela gestão já possui módulos comerciais licenciados a disposição de interessados, com capacidade para 150 toneladas/dia e para 300 toneladas/dia de lixo urbano, com geração de, respectivamente, 2,8 MW e 5,6 MW de energia elétrica. Nesse projeto o próprio lixo é utilizado como material combustível para alimentar a combustão nas caldeiras.
 - Nosso maior objetivo é resolver o problema do lixo, que é uma demanda urgente em nosso tempo, a geração de energia surge como um subproduto, uma espécie de benefício a mais no final do processo -, explicou Luis Carlos Malta, diretor da empresa.
 
 Natureza Limpa (MG)
 
 No dia seguinte, a segunda etapa, em Minas Gerais, onde um grupo de pesquisadores desenvolveu o projeto chamado Natureza limpa, que é voltado a carbonização do lixo não reciclável, ou seja, a transformação dos resíduos em carvão industrial que em seguida pode ser utilizado como combustível para alimentar as caldeiras destinadas a geração de energia termoelétrica. A tecnologia utilizada no projeto foi desenvolvida pelo Núcleo Técnico-Ambiental Railton Faz, em parceria com a TJMC Empreendimentos, possibilitando a utilização de resíduos urbanos para a produção de briquetes de carvão, com alto poder calórico. Uma característica neste sistema de carbonização é a filtragem e reaproveitamento dos gases e elementos nocivos liberados durante o processo, garantindo produção eficiente, limpa e altamente sustentável.
 - Hoje existem tecnologias para resolver o problema do lixo no Brasil e no mundo, basta que as pessoas que tem o poder de decisão e de investimento optem por essa atitude -, comentou Mário Martins, diretor responsável pela administração do projeto. “O que fazemos aqui é acelerar um processo que existe há milhares de anos na natureza, desenvolvendo tecnologia de ponta para aperfeiçoar um processo extremamente simples”, concluiu.
 
Viabilidade
 
 Os custos de implantação ainda são um dos maiores obstáculos a serem vencidos para a concretização do intento das lideranças regionais, pois, ainda não se sabe que tecnologia será necessária para a concretização das usinas. Outro problema a ser enfrentado, que já está sendo tratado pelas lideranças, é a questão da quantidade de resíduos necessária para ambos os processos, hoje insuficientes. Nesse sentido já foram prospectados como parceiros mais dois consórcios regionais na região (CONILIXO de Trindade do Sul e CITRESU de Bom Progresso) ), havendo ainda tratativas iniciadas com pelo menos mais três municípios de maior parte interessados em participar da iniciativa.
 Compuseram o grupo de trabalho o presidente da Creluz, Elemar Battisti, o técnico Éder Gerelli, o engenheiro Artur Geller, o prefeito de Seberi e presidente do CIGRES, Marcelino Galvão Bueno, e o prefeito de Taquaruçu do Sul e presidente da AMZOP, Mauro Sponchiado.

Fonte: Marcos Corbari
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